03/05, o aniversário do Pai do Funk

[09/05] VooDoo #03 – Especial James Brown, com participação de PC Capoeira

No dia 03 de maio de 1933, há 77 anos, na cidade de Barnwell, Carolina do Sul, nascia aquele que entraria para a história da música com apelidos como Mr. Dynamite, Mr. Please Please Her, The Hardest Working Man e The Minister of Funk: ninguém mais, ninguém menos que James Joseph Brown Jr. De família pobre e conturbada, quando Brown tinha seis anos foi deixado com uma tia que cuidava de uma casa de prostituição. Na infância e adolescência, foi engraxate, vendeu selos e ganhou alguns trocados lavando carros e louças na cidade de Augusta, Georgia. Aos 16 anos foi enviado para um centro de detenção juvenil: pegaram-no em flagrante comentendo assaltos a mão armada.

james brownFoi na prisão que conheceu Bobby Byrd: ele, que viria a ser integrante dos J.B.’s, a banda mais famosa que Brown conseguiu juntar, conseguiu sua soltura e James, novamente em liberdade, antes de conseguir firmar uma carreira musical, ainda tentou as alternativas do boxe e do beisebol. Brown voltaria a ser preso inúmeras vezes por posse ilegal de armas e de drogas, assim como violência doméstica. Sua estreia em disco acontece em 1956, junto ao grupo vocal The Flames, mas seu nome aparece pela primeira vez como um bandleader em 1958, quando lança o single “Try me” como James Brown and The Famous Flames. Sua primeira gravação de impacto vem em 1963, com o LP ao vivo Live at the Apollo. E daí em diante, bem, todos já sabem: The King of Soul, em sucessivas gravações, não só atinge progressivamente lugares mais altos nas paradas de sucesso como funda um novo ramo na grande árvore da música negra norte-americana. Funda o funk, o mais safado de todos os ritmos já inventados pelo homem. Seus shows eram apresentações extravagantes que reuniam bandas gigantes e artistas convidados, e que duravam muito mais tempo do que qualquer um poderia esperar. Os membros da banda, selecionados entre os melhores, eram regidos por um regime de excelência e multados em dinheiro por usarem calçados não-engraxados, por errarem notas musicais ou por entrarem atrasados no palco. Além de músico, foi um ativista dos direitos negros e há quem diga que um show seu, um dia depois da morte de Martin Luther King, evitou a explosão de uma guerra civil em Boston. Morreu de insuficiência cardíaca causada por complicações de uma pneumonia na madrugada de 25 de dezembro de 2006. Segundo seu amigo Charles Bobbit, suas últimas palavras foram “eu estou indo embora esta noite”.

A VooDoo de maio vai trazer o Godfather of Soul de volta e fazê-lo coordenar mais um ritual. Numa homenagem ao criador do funk, o mais safado dos ritmos, os residentes Rafa Rubim, J. Oster & Dr. Caiaffo trazem pra pista do Cabaret sets especialíssimos, recheados com o melhor da longa carreira de James Brown. No domingo, 09 de maio, semana em que ele estaria completando 77 anos, a partir das 21 horas, venha dançar com ele como ele sempre gostava.

Pra ir aquecendo o corpo, dá uma olhada nessa compilação de passos de dança do Ministro. E já imagina o que vai rolar no dia 09, no comando do mestre PC Capoeira na pista.

Make it Funky!

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Histórico

Nos anos 30, na cidade de Chicago, Estados Unidos, o clarinetista e saxofonista norte-americano Mezz Mezzrow compunha um jazz chamado Funky Butt (em nossa tradução livre, algo como “traseiro vibrante”). Era uma das primeiras aparições oficiais da palavra funk, gíria já corrente na época. Décadas depois, todo um novo ramo na música negra mundo afora iria identificar-se sob este guarda-chuva vibrante. Nos originais anos 30, colocar mais funk em alguma coisa era deixá-la mais solta e mais sexy, era deixá-la apimentada e safada. Na música de então, significava dotá-la de um ritmo sincopado e forte, bem como de fraseados que tivessem o poder de sacudir e fazer dançar. Era caprichar no swing. Chamar um transe. Em conversas mais polidas da elite branca de então, era palavra a ser evitada por sua conotação abertamente indelicada.
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Durante os anos 40, 50 e 60, enquanto o jazz proliferava em bebops, hardbops e outros estilos, a proposta de unir ritmo, harmonia, melodia e transe era cada vez mais comum. Em meados dos anos 60, depois que James Brown e Sly & The Family Stone aparecem na cena do R&B norte-americano, então o funk ganha estatuto próprio e explode corpos e pistas de dança. Instala-se o transe generalizado. Surge o mais safado de todos os ritmos já inventados pelo homem. Brown e Sly pavimentam o caminho por onde passariam nomes como George Clinton e seus combos Funkadelic e Parliament, mas também The Commodores, Kool & The Gang, depois Stevie Wonder, Curtis Mayfield, Marvin Gaye, Isaac Hayes, Al Green e tantos outros; eles também lançam as bases para a construção das pontes que levarão a nova música negra até a África originária de Fela Kuti, Manu Dibango e todos os grandes nomes da variação do funk que viria a ser conhecida como afrobeat; ainda hoje aprumam os lemes que fizeram o funk chegar ao Brasil e misturar-se às ricas sonoridades locais na música de Tim Maia, Gerson “King” Combo, Miguel de Deus, Jorge Ben e muitos outros. Inúmeras outras misturas também foram possíveis e até inevitáveis: efeitos do transe, chegamos até o que seria um suposto absurdo como o funk’metal, unindo o peso das guitarras distorcidas com o antigo e vibrante balanço na sonoridade de bandas como os Red Hot Chili Peppers. Pimenta ardida, o funk. Tempero groove.
Hoje em dia, a música do mundo todo já passou por alguma revolução funk, em dado ponto já é mais solta e sexy, apimentada e safada, marcada e dançante.
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A VooDoo é uma celebração às mais diversas manifestações desta história musical negra, quente e safada, procurando sempre os precursores destas inúmeras revoluções: VooDoo é funk old school pelo transe na pista.
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Sua receita é infalível: comece cedo aquecendo os corpos com o melhor da história do jazz, do originário ragtime ao contemporâneo fusion; quando os corpos já estiverem suficientemente amornados da frieza bruta e métrica do cotidiano, acrescente pouco a pouco o calor dos grooves em doses crescentes de batidas fortes, baixos gordos, guitarras choronas, teclados imensos, roucas vozes e coros que chamam a cantar no que há de melhor nos lados B da música funk; quando o suor começar a brotar, então é hora de fazer o bicho pegar com os grandes e universais sucessos desta história absolutamente contagiante, sem parar, até atingir nada menos do que o transe total.
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Quem comparecer ao nosso ritual VooDoo será tomado.
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Quem viver, voltará!

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