Azymuth no último domingo, em Porto Alegre

Azymuth, excelente banda brasileira de jazz, passou pela Capital no último domingo, em apresentação no Átrio do Santander Cultural, na Praça da Alfândega. Um show que causou encanto ao público, bastante diversificado etariamente, diga-se de passagem.

O trio – primeiros brasileiros a serem convidados ao Festival de Jazz de Montreux, em 1977 – apresentou um pouco da sua história de 38 anos juntos. Tocaram temas clássicos e incitaram à participação da plateia. A empatia dos membros da banda com o público era marcante.

Incrível como os tios de cabeça branca chegaram de mansinho, como se tivessem até alguma dificuldade. E era só o que não tinham, pois debulharam os instrumentos com maestria. Apresentação impecável.

Noite irrepreensível de jazz da mais absoluta qualidade, alternando momentos suaves com performances cavalescas de jazz-funk. Reverência aos homens, bonecada!

Informações da banda em http://www.azymuth.net/.

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Histórico

Nos anos 30, na cidade de Chicago, Estados Unidos, o clarinetista e saxofonista norte-americano Mezz Mezzrow compunha um jazz chamado Funky Butt (em nossa tradução livre, algo como “traseiro vibrante”). Era uma das primeiras aparições oficiais da palavra funk, gíria já corrente na época. Décadas depois, todo um novo ramo na música negra mundo afora iria identificar-se sob este guarda-chuva vibrante. Nos originais anos 30, colocar mais funk em alguma coisa era deixá-la mais solta e mais sexy, era deixá-la apimentada e safada. Na música de então, significava dotá-la de um ritmo sincopado e forte, bem como de fraseados que tivessem o poder de sacudir e fazer dançar. Era caprichar no swing. Chamar um transe. Em conversas mais polidas da elite branca de então, era palavra a ser evitada por sua conotação abertamente indelicada.
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Durante os anos 40, 50 e 60, enquanto o jazz proliferava em bebops, hardbops e outros estilos, a proposta de unir ritmo, harmonia, melodia e transe era cada vez mais comum. Em meados dos anos 60, depois que James Brown e Sly & The Family Stone aparecem na cena do R&B norte-americano, então o funk ganha estatuto próprio e explode corpos e pistas de dança. Instala-se o transe generalizado. Surge o mais safado de todos os ritmos já inventados pelo homem. Brown e Sly pavimentam o caminho por onde passariam nomes como George Clinton e seus combos Funkadelic e Parliament, mas também The Commodores, Kool & The Gang, depois Stevie Wonder, Curtis Mayfield, Marvin Gaye, Isaac Hayes, Al Green e tantos outros; eles também lançam as bases para a construção das pontes que levarão a nova música negra até a África originária de Fela Kuti, Manu Dibango e todos os grandes nomes da variação do funk que viria a ser conhecida como afrobeat; ainda hoje aprumam os lemes que fizeram o funk chegar ao Brasil e misturar-se às ricas sonoridades locais na música de Tim Maia, Gerson “King” Combo, Miguel de Deus, Jorge Ben e muitos outros. Inúmeras outras misturas também foram possíveis e até inevitáveis: efeitos do transe, chegamos até o que seria um suposto absurdo como o funk’metal, unindo o peso das guitarras distorcidas com o antigo e vibrante balanço na sonoridade de bandas como os Red Hot Chili Peppers. Pimenta ardida, o funk. Tempero groove.
Hoje em dia, a música do mundo todo já passou por alguma revolução funk, em dado ponto já é mais solta e sexy, apimentada e safada, marcada e dançante.
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A VooDoo é uma celebração às mais diversas manifestações desta história musical negra, quente e safada, procurando sempre os precursores destas inúmeras revoluções: VooDoo é funk old school pelo transe na pista.
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Sua receita é infalível: comece cedo aquecendo os corpos com o melhor da história do jazz, do originário ragtime ao contemporâneo fusion; quando os corpos já estiverem suficientemente amornados da frieza bruta e métrica do cotidiano, acrescente pouco a pouco o calor dos grooves em doses crescentes de batidas fortes, baixos gordos, guitarras choronas, teclados imensos, roucas vozes e coros que chamam a cantar no que há de melhor nos lados B da música funk; quando o suor começar a brotar, então é hora de fazer o bicho pegar com os grandes e universais sucessos desta história absolutamente contagiante, sem parar, até atingir nada menos do que o transe total.
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Quem comparecer ao nosso ritual VooDoo será tomado.
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Quem viver, voltará!

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